D E N Ú N C I A

José Cizino de Oliveira¹

Sou professor do Ensino Fundamental da Escola Municipal Salomé da Rocha Barros, situada no Bairro Roberto Correia de Araújo, um dos bairros mais populosos de União dos Palmares. A escola atende a uma demanda de mais de dois mil e quinhentos alunos em seus três turnos. Com essa quantidade de alunos é grande a quantidade de problemas e desafios, entre tantos, a fome ainda é o mais injusto e desumano de todos.
No último dia dez de agosto (terça feira) liguei a televisão para assistir ao jornal de Alagoas da TV Gazeta e, entre os destaques, lá estava União dos Palmares. Tal e qual o Estado alagoano quando aparece em rede nacional, escândalos de suspeitas de desvio do dinheiro público, entre outras coisas nesse nível, já banais entre nós, apareceu, desta ou mais uma vez, a nossa tão sofrida e explorada União dos Palmares.
Na qualidade de educador do município de União, já não suporto a vergonha a que somos expostos, não sei mais o que argumentar com os meus alunos em relação a tantas denúncias de roubos, desvios à cara dura e o povo em miséria absoluta. Trabalho nesta escola há mais de três anos tentando incutir e discutir com eles o conceito de cidadania, ética, moral, honestidade, entre tantos outros temas, todavia, os nossos representantes, por anos a fio, não conseguem administrar as coisas públicas com o rigor e o carinho necessários.
Confesso que é vergonhoso discorrer esse olhar investigativo que a análise textual requer acerca da situação social e política deste Estado, em especial do lugar que me viu nascer e que tanto amo. Nesta medida, me recuso a compartilhar ou me omitir diante de tantas inverdades que foram colocadas pela direção desta escola. Sei que vou sofrer, de novo, milhões de retaliações por está sendo coerente com aquilo que me faz viver e que tanto ensino e defendo: meus princípios éticos e morais, mas enquanto educador comprometido com a emancipação plena do cidadão, não posso comungar com essa vergonhosa falta de caráter em defesa de grupos de saqueadores que compram, ameaçam e sujam a imagem daqueles que ousam fazer o que estou fazendo.
A Escola Salomé, desde o início do ano letivo até os dias de hoje, no horário em que trabalho, não ofereceu merenda nem mesmo depois da reportagem mentirosa em que a diretora aparece falando inverdades. Só depois de uma discussão com a referida diretora é que a merenda começou a ser servida aos alunos no turno vespertino, não sei até quando, mais estou atento. Não entendi por que os questionamentos não foram feitos a quem realmente entende do assunto, pois deveriam ser entrevistados: a Presidenta do Conselho de Alimentação do município, os professores que conhecem a realidade de fome dos seus alunos e os próprios alunos ou seus pais. A merenda que chega à escola não passa quinze dias e somente é oferecida no turno matutino. Portanto, eu e outros professores desta escola, indignados com a atual conjuntura de nossa educação municipal, vimos solicitar que este importante meio de comunicação possa, em nome da verdade, fazer as devidas considerações acerca do que está sendo denunciado.

União dos Palmares-Alagoas, 13 de agosto de 2010.

¹Acadêmico do 7º. Período de Letras do Campus V Zumbi dos Palmares - União dos Palmares-Alagoas, da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL e professor da Escola Municipal Salomé da Rocha Barros, União dos Palmares-AL.

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