QUAL É A COTA PARA O RACISMO???

Recentemente uma notícia me deixou pensativo a constitucionalização do sistema de cotas nas universidades públicas para pessoas negras. Esse foi um assunto sobre o qual eu sempre me policiei na hora de conversar com alguém. De um lado do Brasil há quem comemore, do outro, há quem veja nesse ato uma afirmação de práticas e pensamentos racistas. Tomando a UFAL como exemplo, instituição na qual passei quatro anos, vou discorrer sobre essa “conquista”, limitando-me ao que sei sobre o assunto. O sistema de cotas surgiu, a meu ver, com a necessidade de aplacar a necessidade da presença de afrodescendentes em nossas universidades, talvez por isso, a princípio, ele foi visto como um símbolo de igualdade, mas, dentro dos quatro anos, muita coisa se mostrou negativa nesse sistema. Primeiramente, o ferimento ao ego das pessoas que optaram por ele, visto que o que mais eu ouvia de colegas de curso era “ah, fulaninho entrou só porque fez com cotas”, como se esse sistema fosse para quem não tinha a capacidade de entrar com esforço e conhecimento próprio. Outra coisa interessante, na verdade intrigante, era que, a cada ano que passava o número de pessoas que se declarava negra só para concorrer ao sistema, mas que na verdade eram brancas como mandioca, crescia assustadoramente. Sim, pessoal de movimentos sociais, eu sei que a negritude não tem a ver com a cor que tenho, mas com a questão da herança genético-cultural, mas não soa como contradição termos um percentual maior de alunos brancos declarados afrodescendentes do que de alunos negros afrodescendentes ingressando nas universidades? Bem, isso foi no meu tempo e, como disse, no contexto de minha realidade da época. Outra questão que sempre debatíamos na universidade: por que esse sistema foi implantado e tão defendido? Bem, ao que nos pareceu era porque nós vivemos no Brasil que, apesar de conter um modelo populacional de miscigenação, é um dos países mais racistas do mundo. O sistema, então, surge como uma tentativa de amansar o peso da culpa e de tirar de nossos órgãos culturais e educacionais a marca nociva da herança escravagista que tivemos. Okay, não estou aqui para considerar ou desconsiderar nada, mas é realidade o fato de que abranger possibilidades nem sempre significa ser inclusivo, uma vez que o racismo permanece nas escolas e nos corredores dos mais altos escalões do poder. Assim, acima dessas soluções paliativas, brilha a eficiência de um governo (e não estou especificando partidos) que, ao ver esse sistema implantado, levanta a cabeça e diz com orgulho: “Estamos fazendo nossa parte”. Bem, como disse a princípio, essa minha visão é calcada no que vivi durante 04 anos na UFAL. A essa altura as coisas têm mudado — espero. Ah, podemos começar a verificar a funcionalidade do sistema averiguando o número de alunos que se declaram pardos (etnia que, para mim, não existe) ao invés de negros quando fazem a inscrição do ENEM. Mas tudo bem, o governo fez a sua parte e, no fim das contas, a consciência é nossa, não?

Tarcísio José Alves de Morais

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