A DESPEDIDA DE ESPATÓDEA

Foto: José Marcelo

No domingo, depois de muito perambular, encontrei uma opção para meu divertimento, quando uma amiga minha me chamou para ver Espatódea, peça tão comentada no Twitter. Sem pensar duas vezes, fui, imaginando o espetáculo que iria encontrar lá. Contudo, garanto que minha imaginação foi bem mais fértil do que o que encontrei na Uneal.
Rommel Bezerra é um ótimo ator, e não vou perder tempo masturbando seu ego, coisa que ele fez tão prepotentemente ontem à noite, mas como escritor e diretor, ele deixa, apesar da torcida organizada, muito a desejar. A peça, que começou com uma abertura magistral, teve, em muitos momentos, uma quebra de clima composicional tão gritante que me fez acenar negativamente a cabeça. Apesar de conter uma intenção boa, não vi resultado positivo nos sotaques carregados e nas contradições discursivas dos personagens. Os gestos artísticos feitos pelo casal central soaram tão europeus que até me esqueci que o espetáculo havia sido premiado por exaltar Alagoas. Ah, e em se tratando de casal... Ele atendeu às expectativas, entrou no personagem, mas a menina... Quebrava todo romantismo que era para ter. Nem mesmo a Elephant Gun do Beirutte, que em nada combinou para o momento em que foi tocada, salvou as cenas pseudo-poéticas e a falta de química entre o casal esfriava as performances.
Dos outros atores pouco tenho a falar, exceto da inexistência do prefeito e a falta de presença de palco dos outros coadjuvantes do núcleo malvado da história. Quanto ao roteiro... Houve muita coisa estranha, como por exemplo, o fato de acreditarmos que a peça era de época quando na verdade não era — ou era? Outra coisa esdrúxula foi a construção do filho do prefeito que, apesar de tentar passar a imaturidade dos playboyzinhos, soou totalmente idiota e desnecessário ao contexto da peça. E o coronel/capitão/fazendeiro que começou falando tão culto e derreou no sotaque brejeiro e clichê alá Senhora do Destino? Ah e uma coisa nauseante foi o perfil da empregada doméstica que apesar de interessante soou também clichê. No final da peça ainda ouvi algumas pessoas falando que tudo foi inovador. Comé? Inovador para quem não viu Lisbela e O Prisioneiro, Primo Basílio, Capitu e A Usurpadora (que marcou presença com a troca dos copinhos envenenados).
Por mais que tentasse encarar a peça como uma improvisação do que ela realmente é, não foram os pequenos detalhes que incomodaram, mas os gritantes. O fato dos homens moderninhos de brinco, o vestido da mãe mais curto que o da filha (se ele queria passar devassidão, não precisava daquilo) e os copos de cores diferentes que foram trocados e passaram despercebidos pelo cara que o bebeu. Como? Daltonismo, na certa! Isso tudo, não é erro do elenco, mas da direção, que não viu que existiam outros espaços além do que cabia ao protagonista. Para encerrar, achei modesto o discurso do senhor diretor, quando disse que SEU elenco estava de parabéns e que a peça acabou se resumindo em UMA só pessoa.

Tarcísio José

1 comentários:

Anônimo disse...

Acho muito positivo da sua parte criticar a peça dessa forma, mostra que, diferente de muita gente você não "vai com a maioria". Porém, não concordei com nada que você disse. Acredito que você já tenha assistido diversas peças, porque comparar uma peça teatral a um filme não existe. Outra coisa, aproveito esse comentário para parabenizar o elenco, e dizer que eu espero que brevemente eles voltem. Abraço Tarcísio.