O POLÊMICO FIM DA EXIGÊNCIA DO DIPLOMA DE JORNALISTA

Jorge Vieira*

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelo fim da exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista, julgando ação impetrada por entidade das empresas de comunicação do estado de São Paulo. A decisão provocou pânico, desolação, indignação e apreensão em estudantes, jornalistas e entidades da sociedade brasileira.
Sobre os profissionais jornalistas recai a preocupação com as possíveis chantagens de empresários da comunicação quanto à ética na investigação, produção e veiculação de notícias que afetam interesses políticos e econômicos da empresa, como também o achatamento salarial. Está em jogo a qualidade da informação tão bombardeada e vigiada, que sofre mais um golpe no processo de moralização, democratização e construção da cidadania do país.
Quanto aos estudantes, veio a dúvida! E agora, se não precisa de diploma, por que continuar a graduação?! Essa preocupação possibilita a interpretação da redução do jornalismo ao emprego ou a prática cotidiana de produção da notícia. Se isto é verdade, os ministros tinham razão! O presidente da Corte, Gilmar Mendes, comparou o jornalista ao chefe de cozinha que prepara excelente comida sem precisar de curso universitário! Pra que passar quatro anos estudando legislação e ética, pesquisando história da comunicação e aprendendo técnicas na faculdade se basta saber escrever, falar com desenvoltura ou ter uma beleza para aparecer na telinha?!
Da parte das entidades da sociedade, a manifestação de repúdio e apreensão! Entre outras, as seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), se manifestaram contrárias à decisão. As mobilizações de entidades de classe, estudantes e personalidades estão em plena campanha pela volta da obrigatoriedade do diploma, inclusive com uma proposta de emenda constitucional encabeçada pelo senador Antônio Carlos Valadares.
Mas, a decisão do Supremo, a quem serve? Pela origem, aos interesses dos empresários da comunicação e, conseqüentemente, do fortalecimento do monopólio do setor. A imprensa no Brasil nasceu sob a censura e domínio político, econômico e ideológico da Coroa Portuguesa. Infelizmente, seus duzentos anos de história não conseguiram mudar substancialmente a trajetória. As capitanias hereditárias continuam as mesmas na posse da terra, das indústrias e, modernamente, dos meios de comunicação. No Brasil, basta identificar os grupos econômicos na agricultura e na indústria para saber quem tem o controle das empresas de comunicação.
Com o processo de redemocratização, a promulgação da Constituição Federal e o advento das novas tecnologias, a informação tem passado por um processo de maior fluidez, investigando juízes, ministros, parlamentares, empresários e governantes. Coincidentemente, a nota do presidente do Senado, José Sarney, sobre as denúncias veiculadas pela mídia dos atos secretos em benefício de seus familiares, afirma está sofrendo “perseguição da imprensa”.
E quem perde? A ética, a cidadania, a democracia e a sociedade – abre-se uma brecha também para atingir outras profissões. E, conseqüentemente, os próprios profissionais graduados que trabalharão sob maior pressão dos patrões. Instala-se oficialmente a precarização do exercício da profissão.
Enquanto a sociedade não reverte essa anomalia neoliberal, triplica a responsabilidade das Instituições de Ensino Superior, dos professores (as) e estudantes de Comunicação Social com a maior qualificação e formação técnica dos futuros jornalistas, como também do sindicato da categoria na fiscalização da ética e cumprimento da legislação trabalhista.

*Jornalista – diplomado pela UFAL.

2 comentários:

Walter Jr. disse...

Rapiz, isso só preocupa os jornalistas ruins.. os bons sempre terão lugar pra trabalhar. Quanto aos bonitinhos, esses sempre vão apresentar os jornais e aparecer na televisão.
Não adiante ter diploma, ter sabedoria teorica mas nao ter tino pra coisa, nao ter desenvolturam nao saber falar em publico nem escrever.

JORNALISTAS, vão se aperfeiçoar em vez de brigar por um pedaço de papel q nunca valeu nem vai valer nada.

Iremar Marinho - Jornalista disse...

A briga não é por um pedaço de papel, mas pela importância e responsabilidade da profissão para a sociedade e, sobretudo, contra a estratégia de setores atrasados da imprensa para desorganizar a categoria.
Regulamentação de profissão é uma coisa e liberdade de imprensa é outra, totalmente diferente. Quanto à capacidade de ser jornalista, o ministro falastrão Gilmar Mendes, com toda sua sapiência jurídica, não sabe fazer uma matéria jornalística, uma reportagem, simplesmente porque não estudou para isto.
Ou seja, sendo a Comunicação Social uma Ciência com suas técnicas, para aprendê-la é necessário estudar, na Universidade, tendo o estudante vocação para tal. Ademais, Redação de jornal não é sala de aula.
Iremar Marinho - Jornalista